quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Trabalho docente como interação com o outro


Por Lúcio Alves de Barros*

A greve dos professores estaduais que se arrasta por meses não deixa de nos apontar algumas características próprias da profissão docente. Em tela destaco três questões que me parecem importantes, afinal estamos lidando com uma profissão de difícil manejo e conceituação. Em primeiro, destaco a questão da ação interativa do professor, em segundo a relação com o outro e, por último as relações entre os próprios professores.

Poucas profissões são tão interativas quanto a dos professores. Por natureza os docentes lidam com alunos, homens, mulheres, crianças, adolescente, jovens ou adultos. A relação é dialética, pois a existência do estudante está condicionada à existência de quem ensina. Logo, temos uma relação interativa na qual o outro faz parte do enredo da relação social que se desenvolve geralmente numa complexa “célula”, a sala de aula. A interação é, por vezes, tranquila, cheia de graça ou sofrida e tomada por conflitos. De todo modo ela é baseada na interação porque professores lidam com seres humanos, uma "matéria prima" especial, repleta de idiossincrasias, afetos, emoções, um cosmos não passível de mensuração. Como se vê, o “objeto” de trabalho do professor está longe de qualquer objeto de trabalho oriundo do processo fabril. Não é por acaso, que os docentes merecem e devem receber melhores salários.

O segundo ponto, associado ao primeiro, é a relação com o outro. Digo de um outro que, na maioria das vezes, é estranho, complexo, diferente e condicionado por princípios morais e religiosos capazes de causar mal-estar em uma simples aula. Basta para isso que a aula seja um pouco mais arrojada, cheia de interrogações, provocações e sofrimento que fazem girar a cabeça da gente. De qualquer modo este outro, em sala de aula, toma diferentes perfis, por vezes é totalitário, arrogante e impetuoso, outras vezes é curioso, inquieto e sedento de saber. A questão do outro é um problema antropológico que, na “célula” na qual o docente não deve ter o seu poder discricionário retirado, pode parecer ainda modificado em número e conteúdo. Estou falando, por exemplo, do número de alunos em sala de aula. O docente pode se deparar com 20 alunos em sala. Um número que considero ideal, mas a sensação de “quantidade/qualidade” deste outro pode ser de 80 ou mesmo 100. O contrário, mas bem mais difícil, pode acontecer. O fato é que este outro na presença de um igual tende a potencializar forças que antes não sabia que existia e em meio a tempos difíceis a lotação das aulas por pouco não termina em violência, indisciplina e desrespeito ao docente.

Por último, é forçoso pensar na categoria destes professores que hoje sofrem o fenômeno da proletarização e por consequência, da marginalização, do desrespeito, dos baixos salários e das más condições de trabalho. O leitor pode argumentar que o debate é sempre o mesmo e posso até concordar. Até porque a educação jamais foi uma política séria e assertiva neste país. Contudo, o que cumpre frisar é a pouca ou nenhuma ação coletiva e solidariedade entre docentes. A profissão foi tomada nos últimos anos por uma espécie de “vale tudo”, a ponto de um docente regozijar com a desgraça alheia. Se um professor anda recebendo ameaças, críticas ou mesmo está em conflitos com alguns alunos, pode esperar que o outro professor aproveite dessa situação. Pode até ser inconsciente, mas o mundo da vida tem mostrado professores doentes, cansados, amargurados, deprimidos e desistindo da profissão. E não creio que a traição e jogos de interesses nas instituições de ensino não têm contribuído para isso. É um desastre. É lamentável homens e mulheres nas mesmas condições de trabalho caírem na “autofagia docente” dando vida e alimentando o mal-estar, o caos e a crise, que há tempos já vem tomando proporções inaceitáveis nesse país de miseráveis e carente de mais e mais educação.

*Professor da FAE (Faculdade de Educação- BH) da UEMG

http://nepfhe-educacaoeviolencia.blogspot.com/2011/08/trabalho-docente-como-interacao-com-o.html
Fonte:

Pagamento de piso nacional aos professores é determinado pelo STF


24/08/2011 12h33
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TABATA MARTINS
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FOTO: DANIEL IGLESIAS/O TEMPO
Alunos fazem manifestação na porta da ALMG antes de assembleia dos professores nesta quarta-feira.

Foi publicado no Diário da Justiça nesta quarta-feira (24) a resolução do cumprimento da Lei 11738 de 2008, que julga improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada por governos estaduais contra a obrigatoriedade do pagamento do piso aos professores. A decisão é do Supremo Tribunal Federal (STF) e pode mudar os rumos das negociações entre os professores estaduais e o Governo de Minas Gerais.

De acordo com o STF, a decisão nega o subsídio, que engloba gratificações e benefícios na remuneração do servidor. Além disso, a determinação publicada obriga os governos estaduais a pagarem o piso aos trabalhadores. Vale lembrar que cabe recurso à decisão do órgão.

Em greve há mais de 70 dias, os professores estaduais de Minas irão realizar uma nova assembleia às 14h desta quarta-feira (24). Durante esse reunião, a categoria pretende decidir os rumos da paralisação.

Os motoristas que tiverem que passar pela região Centro-Sul de Belo Horizonte durante a tarde desta quarta devem ficar atentos. A reunião dos professores irá acorrer no pátio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no bairro Santo Agostinho, e é previsto que os grevistas saiam em passeata pelas ruas da capital mineira. Após as últimas assembleias, os manifestantes causaram grandes transtornos no trânsito da região Centro-Sul e Central.

Fonte: jornal otempo.com.br

Trabalhadores/as em educação decidem: a greve continua por tempo indeterminado


Em Assembleia Estadual realizada nesta quarta-feira, (24/08), no Pátio da ALMG, em Belo Horizonte, cerca de 9 mil trabalhadores/as em educação, sob coordenação do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), decidiram continuar em greve por tempo indeterminado.

Pela manhã, o Comando Geral de Greve esteve reunido para avaliação do movimento e da nova proposta de política salarial para a educação, anunciada nessa terça-feira (23/8), pelo governo do Estado, através das Secretarias de Estado da Educação e do Planejamento e Gestão.

A direção do Sind-UTE/MG entende que a proposta de política salarial para a educação anunciada pelo Governo de Minas não faz justiça às reivindicações da categoria.

O Projeto de Lei que o governo enviará à Assembleia Legislativa, segundo a Secretaria de Estado da Educação, possui propostas de aperfeiçoamentos na política salarial dos profissionais da educação do Estado que entrou em vigor em janeiro deste ano; mas os trabalhadores em educação não entendem desta forma.

A coordenadora-geral do Sindicato, Beatriz Cerqueira, explica que a nova proposta foi discutida amplamente com a categoria durante a Assembleia Estadual e por fim foi rejeitada. “Essa proposta comprova que o governo não apresenta melhorias para a educação. Nossa luta é pelo Piso Salarial e, aperfeiçoar o subsídio não atende à categoria”, afirma.

A categoria está em greve desde o dia 08 de junho. A reivindicação é pelo imediato cumprimento do Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), que segundo avaliações do MEC está estipulado atualmente em R$ 1.187,00. O governo de Minas paga hoje de vencimento básico, o valor hoje R$ 369,00.

Calendário de atividades aprovado durante a Assembleia Estadual

- 25/08 - Fórum Técnico de Segurança nas Escolas – Araxá
- 26/08 - Atividades em Tiradentes e Fórum Técnico sobre o PSPN na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
- 29/08 - Entrega do dossiê da Educação para a Organização Internacional do Trabalho (OIT) durante encontro na Fecomércio que vai discutir sobre o trabalho decente.
- 31/08 – Assembleia Estadual no Pátio da ALMG – 14h.

- Realização de encontros locais e regionais até a próxima assembleia em parceria com entidades sindicais e movimentos sociais.

Após a Assembleia Estadual, os/as trabalhadores/as em educação seguiram em passeata até a Praça Sete, no centro de Belo Horizonte.

Sind-UTE/MG – Assessoria: Eficaz (31) 3047-6122 e 9976-4112