quarta-feira, 5 de maio de 2010

Professor não aprende a avaliar aluno, diz especialista

Ana Okada: UOL
Atualizado às 18h42

Apenas 1% dos cursos de graduação para professores têm matérias específicas sobre provas e avaliações nacionais, afirma Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas. "O uso de avaliações por parte de professores depende de conhecimento e não do uso 'cego',", salientou, durante palestra na feira Interdidática, ocorrida no final de abril, em São Paulo.

Ela pesquisou os currículos das licenciaturas e cursos de pedagogia brasileiros por meio de dados oficiais divulgados entre 2001 e 2006. A falta de disciplinas sobre avaliação se reflete em como os docentes avaliam seus alunos. Dentre exames feitos por professores e analisados por Bernardete, a pesquisadora afirma ter encontrado "provas incoerentes, feitas 'no joelho', que não foram pensadas com nenhum referencial didático contemporâneo".


Essa falta de formação --tanto para provas escolares quanto para governamentais (como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e a Prova Brasil)-- é problemática, pois os docentes "saem sem formação minima para entender as avaliações e fazer críticas fundadas", aponta.

Os profissionais, de acordo com a professora, usam mais a "sensibilidade" do que conhecimentos acadêmicos para avaliar: "Não basta. Precisamos caminhar para ter processos de avaliação desenvolvidos pelo professor", diz.

Na escola

A pesquisadora explica que as avaliações podem alavancar mudanças no dia a dia escolar. Para isso, "é preciso saber fazer e saber ler os dados, interpretar, levantar aspectos pedagógicos, procurar soluções didáticas e mostrar possibilidades de superação de dificuldades pelos meios que dispomos nas escolas", diz.

E isso "bate" na formação docente: em seu estudo, Bernardete constata ainda que, nos cursos que oferecem formação em avaliações, o conteúdo dado trata-se mais de críticas do que de base teórica para entender seu funcionamento. "Os alunos só tem crítica abstrata daquilo que nem conhecem", diz.

Reformulação de currículo

Para resolver o" grande desafio da educação brasileira", segundo aponta a pesquisadora, é preciso que haja uma reformulação do currículo dado nas licenciaturas --tarefa a ser feita pelo governo e pelas universidades. "Nunca tivemos uma política pública da união em relação a aprimorar a formação das licenciaturas e, hoje, estamos numa situação relativamente caótica".

A docente critica a formação a distância, que exige uma alta capacidade de leitura e estudo que nem todos os estudantes têm e diz que os sindicatos deveriam cobrar a qualidade na formação em suas plataformas.

Outro fator apontado é a dificuldade que os graduandos de licenciatura têm em realizar o estágio obrigatório em escolas. "Como você vai fazer estágio de 1ª a 4ª série em curso noturno? Não existe. Eles fingem que fazem estágio... a maioria não faz", conta. Para evitar isso, a pesquisadora aponta que deveria haver mais bolsas para cursos diurnos em vez de noturnos.

Uso de avaliações

A professora diz que a cultura de avaliações começou a ser pensada no final dos anos 80 e se consolidou nos anos 90, enquanto outros países já tinham sistemas avaliativos. Apesar de hoje estarmos além do pensamento de provas como "punição" ou "seleção", a docente diz que as escolas brasileiras ainda usam avaliações apenas como "sinalizadores".

"Precisamos decifrar esses sinalizadores, isso depende de conhecer metodologicamente esses processos. Não estou dizendo de dominar firulas estatísticas, mas a lógica e seus conteúdos, que permitem interpretar esses processos para usá-los em sala de aula".

Editado por: Adão Maximo Trindade

Graduando em Pedagogia

Qualidade e Educação Exige Compromisso Social



As duas últimas edições da revista Época (nº 623 e nº 624) abordaram dois temas inerentes à qualidade da educação: o desempenho do professor e os ralos que dragam os investimentos públicos nesta área. É lamentável, porém, que as matérias (principalmente a primeira) tenham se eximido de debater os assuntos de forma plural e priorizado uma única corrente de pensamento, o da meritocracia PURA e NEUTRA.

Em “Os segredos dos bons professores”, capa da edição de 26 de abril, a matéria redigida pela jornalista Camila Guimarães enfoca a importância do professor no processo de aprendizagem dos estudantes e compara estilos pessoais e métodos pedagógicos que diferem o ótimo professor daquele “mal preparado”. Para estes últimos, são sugeridas técnicas de aperfeiçoamento desenvolvidas por dois estudiosos americanos. Já a punição no processo de avaliação de desempenho, indispensável para o sucesso do conteúdo ministrado, segundo a reportagem, é outro método eficiente para a se atingir a qualidade educacional. Será isso mesmo?

O contraponto à matéria de 26 de abril mostrou-se parcialmente presente na reportagem “As rachaduras no orçamento da educação”, veiculada em 3 de maio pela mesma revista. Com base em relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão ligado à Presidência da Republica e responsável pela fiscalização dos recursos federais repassados às esferas estaduais e municipais, a repórter Ana Aranha denuncia desvios de verbas na ordem de R$ 48 milhões, na maioria das vezes praticados por prefeitos. O mais alarmante, nesse caso, é que a fiscalização da CGU é amostral e não abarca os recursos providos no próprio ente federado, que corresponde à maior parte das verbas destinadas à educação básica. Ou seja, os desvios tendem a ser bem maiores!

Com relação à matéria do desempenho dos professores, a CNTE, apesar de lamentar a ausência de outras opiniões sobre o assunto (já que a mesma ficou circunscrita às experiências reproduzidas no Estado de São Paulo), reconhece o protagonismo não só dos professores, mas de todos os profissionais da escola envolvidos no processo de produção de conhecimento e cultura. Enfatiza, também, a necessidade de se valorizar esses trabalhadores, através (1) de bons salários e de uma carreira que incentive a permanência no emprego; (2) de uma política permanente de formação (inicial e continuada) pautada em temas, métodos e instrumentos didáticos atualizados, e ofertada pelo Poder Público; e (3) de condições de trabalho apropriadas, com jornada integral em uma só escola e com tempo para atividades de preparação de aulas, de reuniões entre os profissionais e familiares, dentre outras atividades inerentes à organização curricular e pedagógica da escola - condição que alguns governadores, apoiados pelo Executivo de São Paulo, tentam impedir na Ação Direta de Inconstitucionalidade movida contra a Lei do Piso Salarial Nacional do Magistério.

Quanto ao assalto às verbas educacionais, que emperra sobremaneira a melhoria da qualidade da educação, faz-se necessário não apenas apurar, mas, principalmente, punir os criminosos. Essa prática revela também a falta de investimento no controle social dos recursos públicos. Os conselhos do Fundeb e da Merenda Escolar, por exemplo, não têm cumprido suas prerrogativas, sobretudo em razão da ingerência dos gestores locais sobre o trabalho dos conselheiros sociais. E essa conduta tem que ter fim!

Em que pese discordarmos de determinados conceitos das mencionadas matérias, ambas foram válidas para mostrar que a educação se promove com políticas sistêmicas e com compromisso social. Assim, tanto a formação e a valorização dos profissionais quanto o comprometimento do gestor em aplicar corretamente as verbas públicas são condições essenciais para a qualidade. Depositar a responsabilidade de todo um sistema sobre um único ator educacional não é o caminho para a promoção da verdadeira função social da escola, embora muitos acreditem que seja.

Da mesma forma que há estudos indicando a pasteurização de métodos e conteúdos e a individualização da responsabilidade do educador como fatores para o (in)sucesso do aprendizado conteudista, há outros, no entanto, pautados nos princípios de uma educação voltada à cidadania, que revelam ser a gestão democrática o alicerce da escola quanto agência pública de promoção social.

Seguindo esta última lógica, acreditamos que o país, representado pelas três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), precisa avançar rumo à cooperação e à democratização da gestão educacional, razão pela qual a implementação do PSPN aliado à carreira e a constituição do Sistema Nacional Articulado de Educação são as maiores urgências no atual cenário da educação brasileira.

Fonte: CNTE

Editado Por Adão Maximo Trindade

Graduando Em Pedagogia