sábado, 5 de dezembro de 2009

SKINNER - O CIENTISTA DO COMPORTAMENTO E DO APRENDIZADO

Para o psicólogo behaviorista norteamericano, a educação deve ser planejada passo a passo, de modo a obter os resultados desejados na "modelagem" do aluno;


Nenhum pensador ou cientista do século 20 levou tão longe a crença na possibilidade de controlar e moldar o comportamento humano como o norte-americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Sua obra é a expressão mais célebre do behaviorismo, corrente que dominou o pensamento e a prática da psicologia, em escolas e consultórios, até os anos 1950. O behaviorismo restringe seu estudo ao comportamento (behavior, em inglês), tomado como um conjunto de reações dos organismos aos estímulos externos. Seu princípio é que só é possível teorizar e agir sobre o que é cientificamente observável. Com isso, ficam descartados conceitos e categorias centrais para outras correntes teóricas, como consciência, vontade, inteligência, emoção e memória – os estados mentais ou subjetivos. Os adeptos do behaviorismo costumam se interessar pelo processo de aprendizado como um agente de mudança do comportamento. "Skinner revela em várias passagens a confiança no planejamento da educação, com base em uma ciência do comportamento humano, como possibilidade de evolução da cultura", diz Maria de Lourdes Bara Zanotto, professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Condicionamento operante
O conceito-chave do pensamento de Skinner é o de condicionamento operante, que ele acrescentou à noção de reflexo condicionado, formulada pelo cientista russo Ivan Pavlov. Os dois conceitos estão essencialmente ligados à fisiologia do organismo, seja animal ou humano. O reflexo condicionado é uma reação a um estímulo casual. O condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe que o acionar de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Ele tenderá a repetir o movimento cada vez que quiser saciar sua fome. A diferença entre o reflexo condicionado e o condicionamento operante é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo; e o segundo, o hábito gerado por uma ação do indivíduo. No comportamento respondente (de Pavlov), a um estímulo segue-se uma resposta. No comportamento operante (de Skinner), o ambiente é modificado e produz conseqüências que agem de novo sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante. O condicionamento operante é um mecanismo de aprendizagem de novo comportamento – um processo que Skinner chamou de modelagem. O instrumento fundamental de modelagem é o reforço – a conseqüência de uma ação quando ela é percebida por aquele que a pratica. Para o behaviorismo em geral, o reforço pode ser positivo (uma recompensa) ou negativo (ação que evita uma conseqüência indesejada). Skinner considerava reforço apenas as contingências de estímulo. "No condicionamento operante, um mecanismo é fortalecido no sentido de tornar uma resposta mais provável, ou melhor, mais freqüente", escreveu o cientista.
Sem livre-arbítrio
Segundo Skinner, a ciência psicológica – e também o senso comum – costumava, antes do aparecimento do behaviorismo, apelar para explicações baseadas nos estados subjetivos por causa da dificuldade de verificar as relações de condicionamento operante – ou seja, todas as circunstâncias que produzem e mantêm a maioria dos comportamentos dos seres humanos. Isso porque elas formam cadeias muito complexas, que desafiam as tentativas de análise se elas não forem baseadas em métodos rigorosos de isolamento de variáveis. Nos usos que projetou para suas conclusões científicas – em especial na educação –, Skinner pregou a eficiência do reforço positivo, sendo, em princípio, contrário a punições e esquemas repressivos. Ele escreveu um romance, Walden II, que projeta uma sociedade considerada por ele ideal, em que um amplo planejamento global, incumbido de aplicar os princípios do reforço e do condicionamento, garantiria uma ordem harmônica, pacífica e igualitária. Num de seus livros mais conhecidos, Além da Liberdade e da Dignidade, ele rejeitou noções como a do livre-arbítrio e defendeu que todo comportamento é determinado pelo ambiente, embora a relação do indivíduo com o meio seja de interação, e não passiva. Para Skinner, a cultura humana deveria rever conceitos como os que ele enuncia no título da obra.


Máquinas para fazer o aluno estudar
A Educação foi uma das preocupações centrais de Skinner, à qual ele se dedicou com seus estudos sobre a aprendizagem e a linguagem. No livro Tecnologia do Ensino, de 1968, o cientista desenvolveu o que chamou de máquinas de aprendizagem – a organização de material didático de maneira que o aluno pudesse utilizar sozinho, recebendo estímulos à medida que avançava no conhecimento. Grande parte dos estímulos se baseava na satisfação de dar respostas corretas aos exercícios propostos. A idéia nunca chegou a ser aplicada de modo sistemático, mas influenciou procedimentos da educação norte-americana. Skinner considerava o sistema escolar um fracasso por se basear na presença obrigatória, sob pena de punição. Ele defendia que se dessem aos alunos "razões positivas" para estudar. "Para Skinner, o ensino deve ser planejado para levar o aluno a emitir comportamentos progressivamente próximos do objetivo final, sem que para isso precise cometer erros", diz Maria de Lourdes Zanotto. "A idéia é que a máquina de aprendizado se ocupe das questões factuais e deixe ao professor a tarefa fundamental de ensinar o aluno a pensar."

ADAO MAXIMO TRINDADE


COMO SERIA ESCOLA IDEAL?


A pedido do Jornal de Brasília, o professor e chefe do Departamento da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Remi Cassione, traçou o perfil do que seria, na opinião dele, considerado uma escola ideal. Seria aquela que consegue prover as condições para o seu funcionamento, tendo uma boa infraestrutura para atender às necessidades de ensino. Além de melhorar as condições dos prédios escolares, Cassione sugere investir em laboratórios e salas para outras atividades.

A escola ideal também seria em tempo integral. Mas não com aulas o dia inteiro. "As aulas normais aconteceriam em um período. No outro, seriam desenvolvidas atividades de artes e música para envolver o aluno e o incentivar a ficar mais tempo na escola", argumenta o professor. Multidisciplinariedade entre as matérias também seria essencial. Relacionar, por exemplo, matérias de química e matemática em uma aula e poder levar isso para a realidade do aluno é de extrema importância, segundo Cassione.

Além disso, é muito importante investir no corpo docente. "De nada adianta ter a escola perfeita em in-fraestrutura se não tiver professores felizes trabalhando lá", explica. E para os professores e coordenação é necessário um treinamento para que eles possam se adequar a uma nova realidade. "Requalificar espaços, preparar professores, tudo isso é algo que tem que mudar", acrescenta.

VIVÊNCIA DE MUNDO

O professor Cassione defende que a escola ideal deve ter um ensino voltado para a prática, para a vivência do mundo. Essa noção do mundo, dada pela escola, é diferente no Ensino Fundamental e Médio. A vivência para o Ensino Fundamental estaria relacionada, por exemplo, no contato com a natureza. "É necessário adaptar o currículo de acordo com o mundo real. A natureza se torna parte da pedagogia em termos de aprendizagem", explica.

Já no Ensino Médio, o grande desafio é inserir os jovens no mercado de trabalho. Para isso, é necessário trabalhar essa nova etapa da vida com eles. "A escola tem que oferecer algumas opções profissionais", afirma o professor. Um erro das escolas de Ensino Médio, segundo o especialista, é preparar os alunos somente para o vestibular.

As escolas técnicas são hoje as que mais se aproximam do ideal de inserção no mercado de trabalho. Elas oferecem currículo com matérias específicas para cada profissão. O erro está em não ter um currículo ligado, por exemplo, às artes. "Seria ideal ter algumas matérias específicas para que o aluno se interesse pelo o mercado de trabalho", afirma Cassione.

"De nada adianta ter a escola perfeita em infraestrutura se ela não tiver professores felizes"

Remi Cassione, chefe do Departamento da Faculdade de Educação da UnB
Por: ADÃO MAXIMO TRINDADE
GRADUANDO EM PEDAGOGIA-UFOP
Por: