País tem 14 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever
Incapazes de ler o nome do país em que vivem, há no Brasil 14,1 milhões de pessoas maiores de 15 anos que, se soubesse, escreveriam um bilhete em protesto contra a escuridão em que se encontram. Sobram-lhes razões. Em pleno século 21, essa é uma chaga que coloca em dúvida os propalados avanços do país rumo ao mundo desenvolvido e a pretensão de ocupar posição de destaque entre as oito maiores economias do planeta. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), concluída em 2009, com base de dados levantada em 2007. H poucas indicações que esse que quadro tenha melhorado significativamente. Aliás, se pudessem, os autores do bilhete às autoridades acrescentariam pedido de mais apoio aos programas e aos abnegados professores do ensino para jovens adultos. São enormes as dificuldades enfrentadas pelos que se dedicam a levar as luzes do alfabeto a adultos e mesmo a jovens. Faltam recursos para oferecer ensino atraente e os alunos são inibidos pela vergonha de não saber ler e pela luta contra a pobreza do dia a dia.
Nem todos têm a sorte e o talento do palhaço Tiririca que, ao receber 1,3 ,milhão de votos para representar São Paulo na Câmara dos Deputados, provocou polêmica entre juristas e intelectuais. Enquanto a Justiça decide se pode diplomá-lo, o Estado de Minas visitou várias vitimas da difícil condição de analfabeto. Muitos que conseguiram até criar família, o que faz pensar de que não seriam capazes se tivessem tido acesso, na idade certa, ao alfabeto e à tabuada. "Ser analfabeta é humilhante", disse uma entrevistada. "É a pior coisa que existe. Não podia andar sozinha, não sabia o preço de nada, não conseguia pegar um ônibus", testemunhou uma outra que, depois de criar 19 filhos, vive o entusiasmo das primeiras letras.
Eles não fazem ideia do que são as Metas do Milênio, definidas em 2000, pela Conferência Mundial de Educação, em Dacar, sob o patrocínio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O Brasil comprometeu-se a chegar em 2015 com taxa de analfabetismo de no máximo 6,7% da população. A meta estava longe de ser ousada e, a bem da verdade, deveria ter sido bem mais perto de zero. Contudo, no ritmo em que o país vem reduzindo seu vergonhoso estoque de analfabetos, especialistas ouvidos pela reportagem já colocam em dúvida até mesmo o piso compromissado. O passado recente não sugere conclusão diferente. Segundo o IBGE, em 2001, o Brasil tinha 14,9 milhões de analfabetos com mais de 15 anos. Portanto, em seis longos anos, não retiramos da escuridão mais do que 800 mil brasileiros.
Seja em razão do tal compromisso com as Metas do Milênio, seja com outro que deveria ser ainda muito mais importante, com a consciência nacional e o respeito a essa multidão de analfabetos, não é aceitável andar tão devagar, quase parando, com tamanha prioridade. Seja qual for o próximo governo, um programa que mobilize recursos e pessoas no combate ao analfabetismo, de modo a tornar modesto o compromisso com a Unesco, terá de ser obrigação. É hora de o país pagar essa dívida desonrosa com 14 milhões de brasileiros.
Fonte:http://www.educacionista.org.br/jornal/index.php?option=com_content&task=view&id=7144&Itemid=50
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