quarta-feira, 7 de abril de 2010

Carta Aberta a Marx Num mundo sem ideologias e bandeiras...



“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”

“De nada valem as ideias sem homens que possam pô-las em prática.”

“Quanto menos comes, bebes, compras livros, vais ao teatro e ao café, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim, todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça.”

Karl Marx
(Filósofo Alemão)

Amigo Karl,

Lembrei-me daquela sua frase de impacto que abre um de seus principais trabalhos, o "Manifesto". Você dizia que "um fantasma ronda a Europa". Certamente para tal período pensar em tais dimensões, ou seja, continentais, já parecia por demais de soberbo ou até mesmo exagerado na visão de tantas pessoas. Hoje temos que ir muito além do Velho Continente, do Novo ou mesmo do Novíssimo, pois que tal fantasma ronda todos os países do globo. Nesse aspecto vale rememorar um de seus principais discípulos, o Wladimir, aquele que liderou os russos em sua luta pela "ditadura do proletariado" e que depois teve que ceder espaço para um "déspota" nem um pouco esclarecido.

Lênin falava em "imperialismo como fase superior do capitalismo"... Talvez os termos estejam um tanto quanto em desuso, em virtude da desideologização dos embates e do próprio esvaziamento de qualquer disputa que hoje ocorra no planeta, exceto aquela que se processas à custa de fanatismos religiosos... Não mais cabe pensar em imperialismo talvez porque, apesar do Império do Tio Sam ainda existir e, da visível expansão do poderio e influência chinesa, por trás das bandeiras e nacionalidades estão os produtos, o comércio, as vendas, a lucratividade e a tal de "mais-valia" que você tão bem soube definir...

É Karl, o Materialismo triunfou, e não falamos aqui do Dialético ou tampouco do Histórico... O que prevaleceu foram os hábitos de consumo, o consumismo embalado pelos sonhos vendidos diariamente pelo marketing direto ou indireto, consciente ou inconsciente... Comprar é o verbo mais conjugado em todos os idiomas... No cartão de crédito, cheque ou dinheiro, tanto faz, o que importa é adquirir, dando em troca o suor do rosto, traduzido na forma de dinheiro, que de mero elemento de intercâmbio, tornou-se o maior dos pivôs de todas as grandes batalhas...

O Socialismo também virou produto. Tentaram exportar. Ninguém se preocupou em explicar ou ver se as pessoas queriam aceitar e assim viver... O comunismo, este já nem incomoda mais, nem os fascistas de plantão acreditam que tal fantasma, cadáver ou presunto (se é que algum dia chegou mesmo a tornar-se corpo - com músculos, sangue, carne e ossos) irá ressurgir tal qual o Jason, aquele de tantas Sextas-Feiras 13...

A verdade é que poucos entenderam ou se dispuseram a ir a fundo em suas brilhantes análises e teorias... Aqueles que conseguiram, quiseram empunhar as bandeiras de um mundo mais justo, equilibrado, harmônico, fraterno e de partilha... Tornaram-se mártires, enfeitam camisetas, boinas, bonés, pôsteres nas paredes, dão origem a filmes... Viraram produto, irônico, não é? De combatentes do Capital, transformaram-se em meios ou canais de obtenção de mais recursos, de mais fundos, de mais dinheiro... Viraram pó e, deste pó, tal qual a Fênix, transformaram-se em Capital...

Engels, seu parceiro de tantas obras e embates, creio eu, talvez tenha compreendido melhor como isto funciona, tendo em vista que durante suas vidas foi patrocinador de sua obra com dinheiro proveniente do capital das empresas familiares...

Mas não pense que o sonho acabou, só para lembrar outro cabeludo que por aqui passou... Suas lutas deram origem a direitos trabalhistas, a sindicatos, a revoluções (que infelizmente foram superadas pelo poder do capital e da ambição individual dos homens) e a uma centelha de sonho que ainda vive dentro de muitas pessoas, entre as quais, creio... Até em mim! E que sonho é este? Aquele de um mundo melhor, mesmo que para isto tenhamos que reinventar o capitalismo e as formas de opressão por ele geradas e por ti preconizadas...

Talvez o advento dos Verdes e de sua luta por um mundo menos poluído e devastado pela ambição consiga nos levar para uma realidade mais sustentável - tanto no que tange ao meio ambiente quanto no que se refere aos homens e seus pares...

É Karl, obrigado pelas lições, elas ainda estão por aqui, um tanto quanto inertes e insones neste momento, mas sobrevivem, seu legado enriqueceu a humanidade, mesmo que isto, aos seus olhos possa parecer um tanto quanto herético... O que vamos fazer dele ou com ele é a pergunta que permanece em tantas cabeças...

Pra você, um grande abraço!

fonte : João Luís de Almeida Machado.Doutor em educação PUC/SP

Editado por: Adâo Maximo Trindade

Graduando em Pedagogia UFOP/MG

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