terça-feira, 13 de abril de 2010

As lições da greve do magistério paulista

“Unidade e mobilização para derrotar política de arrocho e desmonte do ensino público”
Em entrevista para o Portal do Mundo do Trabalho, Carlos Ramiro de Castro, coordenador do Conselho do Funcionalismo do Estado de São Paulo, diretor da Apeoesp (Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e vice-presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-SP) faz uma avaliação do movimento grevista do professorado paulista e os desdobramentos da luta pela valorização profissional e pela melhoria da qualidade do ensino.

Após um mês de paralisação contra o arrocho salarial e o desmonte do ensino público paulista, os professores decidiram em assembleia na quinta-feira (8) voltar às aulas. Qual a principal lição desta greve?

A de que a unidade e a mobilização da categoria são elementos cruciais para qualquer avanço. Principalmente, diante de um governo que tem como marcas a intolerância e a truculência, o desprezo à democracia e o temor ao diálogo. O governo Serra não tem vontade política e também não tem capacidade de negociação. Temos a convicção de que é uma obrigação dos educadores ampliar o diálogo com os estudantes e seus pais, com o conjunto da comunidade escolar, alertando para o verdadeiro atentado que representa a continuidade deste desgoverno para a qualidade do ensino, para o presente e o futuro da educação das nossas crianças e jovens. Prova disso é que o Estado de São Paulo, o mais rico do país, é também o que mais tem arrochado os salários dos professores, onde eles caíram mais três posições, ocupando atualmente o 14º lugar de uma fila muito pouca generosa.

E o papel dos jornalões e das grandes emissoras de rádio e televisão?

Os grandes meios de comunicação comprovaram ser instrumentos para desinformar a sociedade, manipulando ao extremo para blindar o seu candidato a presidente. Com esta blindagem, após negar a existência do movimento grevista, que dizia ser de apenas 1% da categoria, o governador José Serra usou de todos os expedientes à sua disposição para chantagear e intimidar os grevistas. A mídia comporta-se de forma venal, como um papel carbono do desgoverno.

Essa mesma mídia que durante muito tempo fez coro com esse desgoverno, tentando invisibilizar a greve, deu uma ampla cobertura sobre alguns empurrões no encerramento da última assembleia no Masp. Qual o objetivo dessa cobertura tão tendenciosa?

Há um ponto em que a democracia em nosso país está extremamente capenga, pelo brutal monopólio exercido pelos meios de comunicação, que unificam a pauta reacionária em torno da oposição demotucana e tentam criminalizar os movimentos sociais e todos aqueles que veem como ameaça ao seu projeto de dominação. O desgoverno tucano dizia que a educação estava uma maravilha, que havia dois professores por sala, bônus milionários, que a escola pública estava um verdadeiro paraíso. Mas assim como é impossível deter a chegada da primavera, a verdade se impôs. Dezenas de milhares tomaram as principais avenidas da capital e marcharam até o Palácio dos Bandeirantes, rasgando o véu da hipocrisia e jogando no ralo a ficção daquelas propagandas milionárias. Demonstramos que, após nove anos de política de “bônus’, onde as perdas salariais alcançam 34,3%, houve queda na qualidade do ensino, com São Paulo não atingindo sequer a metade da nota seis, que os educadores têm como a média internacional.

Apesar do esforço dos professores, a qualidade do ensino está despencando no estado de São Paulo...

Os alunos não conseguiram alcançar a nota três, isso é fato. Mais, é fruto de uma política de desvalorização do magistério, de desmonte da escola pública, de abandono de laboratórios e bibliotecas, da falta de segurança nos estabelecimentos de ensino, de materiais didáticos e apostilas que são um verdadeiro achincalhe à inteligência, como aquela que exibiu dois paraguais e desapareceu com o Equador. Aí temos uma assembleia no Masp onde alguns infiltrados que não pertencem à categoria, insuflados por elementos da oposição à Apeoesp, fizeram cena para sair na imprensa, tentando tirar o foco do inimigo e dar uma mãozinha para o Serra na tentativa de desgastar a entidade. Fizeram conscientemente o jogo do governo do PSDB e de sua mídia contra a direção da Apeoesp que é, precisamente, quem está tocando a luta com muita responsabilidade e serenidade.

Durante a greve, o vice-presidente da Apeoesp, que é do PSTU, deu declarações contra a direção da entidade à Folha de S. Paulo, reproduzindo a mesma argumentação utilizada pelo governador José Serra. O que fazer?

Todo processo é um ensinamento, o que deve nos estimular à reflexão. Até o presente momento, a composição da direção da Apeoesp ainda é proporcional, o que possibilita a permanência de grupos minoritários que se comportam e assumem como oposição à entidade, que boicotam a sua política, que minam a sua identidade.

O que atenta contra a própria democracia...

Na minha opinião, esta é uma questão que deve ser revista urgentemente no próximo congresso, uma vez que atenta contra a democracia interna e a própria democracia no sentido mais amplo, que é a vontade da maioria. No meio de uma violenta queda de braço como a que tivemos, isso ficou evidente. Saltou aos olhos. É inadmissível que pessoas que consideram oposição à Apeoesp venham reproduzir a fala do governante de plantão contra a entidade. Isso é o fim da picada. Os professores não querem isso.

Do ponto de vista da mobilização, quais os próximos passos?

A mobilização vai continuar por meio de várias ações aprovadas pela assembleia. Dia 7 de maio é a data limite definida pela categoria para a apresentação de contrapropostas por parte do governo, quando realizaremos nova assembleia para debater e aprovar os encaminhamentos. Serão produzidos materiais denunciando as políticas adotadas pelo governo estadual que prejudicaram a escola pública e seus profissionais, entre eles uma cartilha para ser usada pelos docentes durante as aulas. Ao responder as mentiras que os demotucanos e sua mídia querem cristalizar como verdades, vamos dando elementos de consciência para o conjunto da população refletir sobre o significado desta manipulação, para que superemos nas ruas e nas urnas este desgoverno.

Fonte: CUT

Editado por: Adão Maximo Trindade

Graduando em Pedagogia

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