Após um mês de paralisação contra o arrocho salarial e o desmonte do ensino público paulista, os professores decidiram em assembleia na quinta-feira (8) voltar às aulas. Qual a principal lição desta greve?
A de que a unidade e a mobilização da categoria são elementos cruciais para qualquer avanço. Principalmente, diante de um governo que tem como marcas a intolerância e a truculência, o desprezo à democracia e o temor ao diálogo. O governo Serra não tem vontade política e também não tem capacidade de negociação. Temos a convicção de que é uma obrigação dos educadores ampliar o diálogo com os estudantes e seus pais, com o conjunto da comunidade escolar, alertando para o verdadeiro atentado que representa a continuidade deste desgoverno para a qualidade do ensino, para o presente e o futuro da educação das nossas crianças e jovens. Prova disso é que o Estado de São Paulo, o mais rico do país, é também o que mais tem arrochado os salários dos professores, onde eles caíram mais três posições, ocupando atualmente o 14º lugar de uma fila muito pouca generosa.
E o papel dos jornalões e das grandes emissoras de rádio e televisão?
Os grandes meios de comunicação comprovaram ser instrumentos para desinformar a sociedade, manipulando ao extremo para blindar o seu candidato a presidente. Com esta blindagem, após negar a existência do movimento grevista, que dizia ser de apenas 1% da categoria, o governador José Serra usou de todos os expedientes à sua disposição para chantagear e intimidar os grevistas. A mídia comporta-se de forma venal, como um papel carbono do desgoverno.
Essa mesma mídia que durante muito tempo fez coro com esse desgoverno, tentando invisibilizar a greve, deu uma ampla cobertura sobre alguns empurrões no encerramento da última assembleia no Masp. Qual o objetivo dessa cobertura tão tendenciosa?
Há um ponto em que a democracia em nosso país está extremamente capenga, pelo brutal monopólio exercido pelos meios de comunicação, que unificam a pauta reacionária em torno da oposição demotucana e tentam criminalizar os movimentos sociais e todos aqueles que veem como ameaça ao seu projeto de dominação. O desgoverno tucano dizia que a educação estava uma maravilha, que havia dois professores por sala, bônus milionários, que a escola pública estava um verdadeiro paraíso. Mas assim como é impossível deter a chegada da primavera, a verdade se impôs. Dezenas de milhares tomaram as principais avenidas da capital e marcharam até o Palácio dos Bandeirantes, rasgando o véu da hipocrisia e jogando no ralo a ficção daquelas propagandas milionárias. Demonstramos que, após nove anos de política de “bônus’, onde as perdas salariais alcançam 34,3%, houve queda na qualidade do ensino, com São Paulo não atingindo sequer a metade da nota seis, que os educadores têm como a média internacional.
Apesar do esforço dos professores, a qualidade do ensino está despencando no estado de São Paulo...
Os alunos não conseguiram alcançar a nota três, isso é fato. Mais, é fruto de uma política de desvalorização do magistério, de desmonte da escola pública, de abandono de laboratórios e bibliotecas, da falta de segurança nos estabelecimentos de ensino, de materiais didáticos e apostilas que são um verdadeiro achincalhe à inteligência, como aquela que exibiu dois paraguais e desapareceu com o Equador. Aí temos uma assembleia no Masp onde alguns infiltrados que não pertencem à categoria, insuflados por elementos da oposição à Apeoesp, fizeram cena para sair na imprensa, tentando tirar o foco do inimigo e dar uma mãozinha para o Serra na tentativa de desgastar a entidade. Fizeram conscientemente o jogo do governo do PSDB e de sua mídia contra a direção da Apeoesp que é, precisamente, quem está tocando a luta com muita responsabilidade e serenidade.
Durante a greve, o vice-presidente da Apeoesp, que é do PSTU, deu declarações contra a direção da entidade à Folha de S. Paulo, reproduzindo a mesma argumentação utilizada pelo governador José Serra. O que fazer?
Todo processo é um ensinamento, o que deve nos estimular à reflexão. Até o presente momento, a composição da direção da Apeoesp ainda é proporcional, o que possibilita a permanência de grupos minoritários que se comportam e assumem como oposição à entidade, que boicotam a sua política, que minam a sua identidade.
O que atenta contra a própria democracia...
Na minha opinião, esta é uma questão que deve ser revista urgentemente no próximo congresso, uma vez que atenta contra a democracia interna e a própria democracia no sentido mais amplo, que é a vontade da maioria. No meio de uma violenta queda de braço como a que tivemos, isso ficou evidente. Saltou aos olhos. É inadmissível que pessoas que consideram oposição à Apeoesp venham reproduzir a fala do governante de plantão contra a entidade. Isso é o fim da picada. Os professores não querem isso.
Do ponto de vista da mobilização, quais os próximos passos?
A mobilização vai continuar por meio de várias ações aprovadas pela assembleia. Dia 7 de maio é a data limite definida pela categoria para a apresentação de contrapropostas por parte do governo, quando realizaremos nova assembleia para debater e aprovar os encaminhamentos. Serão produzidos materiais denunciando as políticas adotadas pelo governo estadual que prejudicaram a escola pública e seus profissionais, entre eles uma cartilha para ser usada pelos docentes durante as aulas. Ao responder as mentiras que os demotucanos e sua mídia querem cristalizar como verdades, vamos dando elementos de consciência para o conjunto da população refletir sobre o significado desta manipulação, para que superemos nas ruas e nas urnas este desgoverno.
Fonte: CUT
Editado por: Adão Maximo Trindade
Graduando em Pedagogia
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