quinta-feira, 26 de novembro de 2009

PRO DIA NASCER FELIZ- RESUMO DO FILME-UFOP


Este resumo destina-se exclusivamente aos graduandos em Pedagogia da UFOP-MG, que neste momento do estudo cientifico-cultural, foram orientados a assistir este documentario para ser debatido em seguida num seminario acadêmico.
O filme do diretor João Jardim, Pro dia nascer feliz apresenta depoimentos de alunos e professores de escolas públicas e privadas de várias regiões do país. É um filme tocante, sim, mas para um educador, pouco do que ali está apresentado realmente pode fazer alguma diferença ou mesmo sensibilizar.

A realidade educacional brasileira é muito complexa. Como o próprio filme registra, em 1962 apenas metade dos 14 milhões de jovens freqüentavam a escola. Hoje, 97% das crianças e jovens em idade escolar estão regularmente matriculados, mas isso não significa qualidade de ensino e aprendizagem. Pelo contrário…
O Brasil sempre aparece nas últimas posições em pesquisas que analisam leitura, escrita e raciocínio lógico. Durante décadas o país privilegiou o ensino superior e acabou esquecendo a educação básica.

O estado se mostra preocupado em consertar a situação, mas resolveram fazer isso tarde demais. Não que não seja mais possível, mas nada será resolvido com medidas paliativas. Para mudarmos o quadro, precisamos de tintas completamente novas.

Um fato alarmante: a maioria dos professores brasileiros (mais de 60%, pra ser exato) atualiza-se apenas através da televisão. Muitos não lêem livros e nem têm acesso à internet. Isso sem falar nos ridículos salários que recebem… Para um professor viver bem numa cidade grande, sozinho, precisa receber pelo menos dois mil reais. Se tiver esposa e filhos, o salário precisaria passar fácil dos três mil reais. Porque um professor não deveria pagar apenas contas de luz, água, telefone e cesta básica. Todo professor deveria ser um assíduo freqüentador de cinema, teatro e shows, deveria constantemente acessar a internet, fazer cursos de atualização, especialização, mestrado, doutorado, deveria mensalmente comprar aqueles livros que as editoras não enviam aos professores, porque um professor não deveria e nem poderia ler apenas o que trabalha com seus alunos.

É claro que essa constante atualização por que deveria passar qualquer professor não significa obrigatoriamente melhoria da qualidade de ensino. Um professor que fez apenas sua graduação e recebe um salário baixo pode ser muito melhor do que um professor experiente, com vários títulos em seu currículo e uma renda gorda. Uma aula boa, um professor que prenda a atenção de seus alunos e que consiga ensinar corretamente depende muito mais de disposição e garra do que de experiência e grana.

A verdade é que a sociedade não prestigia o trabalho do professor. Nem o governo. O que acontece então?! Professores desestimulados, desatualizados e desinformados geram alunos desestimulados, desatualizados e desinformados… É claro que a coisa não é tão simples.

Um grave problema, perceptível em qualquer classe social, de acordo com o filme, é o fato de que os pais dos alunos também não os estimulam, também não acreditam em seus filhos. Às vezes nem vêem seus filhos diariamente. Isso prejudica radicalmente o trabalho do professor. Para o aluno, ter reconhecido seu esforço por parte dos pais é fundamental. Se os pais não acreditarem em seus filhos, ninguém mais acreditará. É claro que existem pais dedicados, o que também não garante um bom desempenho escolar do filho, mas já é meio caminho. O que um pai não pode esperar da escola é que seu filho sairá formado com excelentes notas e um bom intelecto sem que ele apóie seu filho e a escola, o trabalho que ela desenvolve.

Como sugere uma professora no filme, talvez a escola, nos moldes atuais, realmente precise de uma radical transformação. Percebo que são pouquíssimos os alunos interessados em aprender. O senso comum nos mostra professores de escolas públicas que dizem que seus alunos os respeitam e acreditam que é através da educação que podem vencer na vida. Vêem no professor uma ferramenta para ascender socialmente. Infelizmente não é a regra para boa parte dos estudantes brasileiros. A maioria dos jovens que estudam em colégios particulares, entretanto, vê no professor a figura que está lhe atrapalhando na conclusão de seus estudos básicos. O único professor adorado por todos os alunos é o dos cursinhos pré-vestibulares, porque é o cara que não faz chamada, não dá nota, estimula e garante que vai colocá-lo na universidade.

Mas o que o filme revela de mais assustador e que, se algum adulto sabia, não contou pra ninguém, é o fato de que os adolescentes precisam ser muito mais ouvidos porque suas angústias são maiores do que podemos imaginar. Uma das meninas diz: “Tenho medo de coisas totalmente complexas e grandiosas, como o medo da morte, o que acontece depois da vida, quem sou eu, o que vai acontecer comigo. São coisas que você começa a pensar e que não têm resposta”. É uma aflição de uma menina de classe média-alta (ou alta), que estuda num dos colégios mais caros do país, mas é uma aflição que se espalha entre outros alunos Brasil afora, de todas as classes sociais…

Como propôs Gilberto Dimenstein em recente artigo no caderno Cotidiano da Folha de São Paulo, “nada é pior que não reverenciar talentos”. As angústias desses adolescentes se transformam em talento, como bem demonstra Pro dia nascer feliz. Pais, alunos, professores e políticos deveriam ser obrigados a assistir Pro dia nascer feliz. Talvez assim o Brasil realmente tenha um futuro promissor.
POR: ADÃO MAXIMO TRINDADE

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