quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"Entre Les Murs".


Resumo exclusivo aos graduando em Pedagogia da UFOP- Alvinopolis-Mg, um vez que o filme realcionado foi solicitado como exigência à disciplina de atvidades Cientifico-Cutural


Entre Les Murs”acompanha um ano lectivo dum professor e da sua turma numa escola dum bairro problemático de Paris, microcosmos da multi-etnicidade da população francesa e espelho dos contrastes multiculturais dos grandes centros urbanos de todo o mundo.
O professor François (interpretado pelo próprio François Bégaudeau, autor do livro que deu origem ao filme) e os seus colegas de trabalho, preparam-se para mais um desafiante e complicado ano escolar. Cheios de boas intenções, estão decididos a não deixarem que o desencorajamento os impeça de tentar dar a melhor educação aos seus pupilos. No entanto, as culturas e as diferentes atitudes colidem frequentemente dentro da sala de aula, provocando um ambiente instável e conflituoso entre os alunos. François que sempre insistiu numa atmosfera de respeito e empenho dentro da sala de aula, vê os seus métodos de ensino serem postos em causa pelos seus irredutíveis alunos, algo que o obriga a repensar a sua estratégia de ensino e a criar diversas maneiras que estimulem a aprendizagem da sua turma.
Como se pode facilmente deduzir pelo resumo em cima descrito, o argumento de “Entre Les Murs” elabora uma competente e interessante crónica sobre a constante “luta” entre professores e alunos.
O filme descreve de forma muito real e explícita, os confrontos praticamente diários entre duas figuras completamente distintas em termos de poder e autonomia, mas que no final do dia estão no mesmo barco educativo. Esta obra de Laurent Cantet é altamente imparcial não tomando partido de nenhum dos lados, não ataca indiscriminadamente os métodos tradicionais de ensino mas também não coloca os professores num pedestal superior ao dos alunos que são caracterizados sem qualquer estereotipo de perfeição ou desleixo, são tidos como simples adolescentes provenientes de diversas culturas e escalões da sociedade.
Ao actuar desta maneira, o argumento consegue transmitir ao espectador uma ideia credível e imparcial do que realmente se passa em muitas escolas públicas europeias, onde os problemas sociais e comportamentais afectam todos os indivíduos envolvidos no processo educativo porque nenhum deles é perfeito.
“Entre Les Murs” não tem como função criticar o sistema educativo francês ou europeu, é de conhecimento geral que o sistema público nunca será melhor que o privado em termos de condições mas pode supera-lo em termos pedagógicos e é essa a verdadeira função do filme, mostrar como é que isso pode ser possível.
Através das aulas do professor François, podemos concluir que o trabalho dum bom professor é muito amplo e não se limita ao ensino da matéria, um bom docente deve ter muita paciência e criatividade para poder lidar convenientemente com um grupo heterogéneo de adolescentes que exige muito de um só individuo, também é verdade que o professor deve mostrar firmeza na hora de dialogar com os alunos mas também deve mostrar algumas ideias de diplomacia na hora de explicar aos alunos as regras básicas do respeito e do convívio social, não só entre eles mas também entre o público geral. Estas são algumas das ideias que o filme pretender passar ao espectador, ideias essas que pretendem melhorar um sistema educativo público que lecciona milhões de indivíduos em todo o mundo e que de certa forma, os prepara para enfrentar a difícil realidade laboral e social.

“Entre Les Murs” foca-se no campo educacional mas também abrange o campo cultural já que a turma do professor François, apresenta uma ampla variedade de etnias e culturas que nem sempre se dão bem. Ao longo do filme são vários os choques ideológicos que emergem nas discussões da sala de aula, todos eles tem um fundamento bastante real e são “resolvidos” através da diplomacia e do bom senso que a figura do professor tenta transmitir. Estes “conflitos” ideológicos funcionam como um espelho da realidade vivida em muitas das escolas públicas e privadas dos grandes centros urbanos, no entanto, ao contrário do que acontece no filme, muitos desses conflitos reais não são sanados e podem acarretar graves consequências sociais, psicológicas ou físicas para os alunos.

Laurent Cantet aborda esta complexa histórica dramática duma forma extremamente competente e preceptiva, fá-lo através duma realização eficaz que se aproxima da simplicidade dum documentário ou duma reportagem televisiva, sem nunca entrar em exageros dramáticos ou irrealistas. Cantet transmitiu da melhor maneira uma história complexa e com fundamentos reais que só poderia ter sido abordada desta maneira, com muita humanidade e simplicidade.
O elenco do filme é composto por actores amadores, sem qualquer experiência no mundo do cinema.
Os alunos que compõem a turma são todos vulgares adolescentes que foram escolhidos entre alunos dum liceu francês, com quem Laurent Cantet trabalhou todas as semanas durante um ano lectivo em ateliers de improvisação e Workshops de representação. François Bégaudeau, o autor do livro que originou o filme, também se estreia como actor em “Entre Les Murs”.
Apesar da sua falta de profissionalização e experiência, estes actores conseguiram apresentam uma performance bastante interessante que é movida por uma naturalidade impressionante que atribui credibilidade e realidade à história que é contada.

“Entre Les Murs” é um poderoso drama realista que oferece uma autêntica lição de vida, sobre a ampla sociedade cultural em que vivemos e sobre a difícil tarefa de ser professor numa sociedade como esta. Um filme imperdível!
Por : Adão Maximo Trindade

PRO DIA NASCER FELIZ- RESUMO DO FILME-UFOP


Este resumo destina-se exclusivamente aos graduandos em Pedagogia da UFOP-MG, que neste momento do estudo cientifico-cultural, foram orientados a assistir este documentario para ser debatido em seguida num seminario acadêmico.
O filme do diretor João Jardim, Pro dia nascer feliz apresenta depoimentos de alunos e professores de escolas públicas e privadas de várias regiões do país. É um filme tocante, sim, mas para um educador, pouco do que ali está apresentado realmente pode fazer alguma diferença ou mesmo sensibilizar.

A realidade educacional brasileira é muito complexa. Como o próprio filme registra, em 1962 apenas metade dos 14 milhões de jovens freqüentavam a escola. Hoje, 97% das crianças e jovens em idade escolar estão regularmente matriculados, mas isso não significa qualidade de ensino e aprendizagem. Pelo contrário…
O Brasil sempre aparece nas últimas posições em pesquisas que analisam leitura, escrita e raciocínio lógico. Durante décadas o país privilegiou o ensino superior e acabou esquecendo a educação básica.

O estado se mostra preocupado em consertar a situação, mas resolveram fazer isso tarde demais. Não que não seja mais possível, mas nada será resolvido com medidas paliativas. Para mudarmos o quadro, precisamos de tintas completamente novas.

Um fato alarmante: a maioria dos professores brasileiros (mais de 60%, pra ser exato) atualiza-se apenas através da televisão. Muitos não lêem livros e nem têm acesso à internet. Isso sem falar nos ridículos salários que recebem… Para um professor viver bem numa cidade grande, sozinho, precisa receber pelo menos dois mil reais. Se tiver esposa e filhos, o salário precisaria passar fácil dos três mil reais. Porque um professor não deveria pagar apenas contas de luz, água, telefone e cesta básica. Todo professor deveria ser um assíduo freqüentador de cinema, teatro e shows, deveria constantemente acessar a internet, fazer cursos de atualização, especialização, mestrado, doutorado, deveria mensalmente comprar aqueles livros que as editoras não enviam aos professores, porque um professor não deveria e nem poderia ler apenas o que trabalha com seus alunos.

É claro que essa constante atualização por que deveria passar qualquer professor não significa obrigatoriamente melhoria da qualidade de ensino. Um professor que fez apenas sua graduação e recebe um salário baixo pode ser muito melhor do que um professor experiente, com vários títulos em seu currículo e uma renda gorda. Uma aula boa, um professor que prenda a atenção de seus alunos e que consiga ensinar corretamente depende muito mais de disposição e garra do que de experiência e grana.

A verdade é que a sociedade não prestigia o trabalho do professor. Nem o governo. O que acontece então?! Professores desestimulados, desatualizados e desinformados geram alunos desestimulados, desatualizados e desinformados… É claro que a coisa não é tão simples.

Um grave problema, perceptível em qualquer classe social, de acordo com o filme, é o fato de que os pais dos alunos também não os estimulam, também não acreditam em seus filhos. Às vezes nem vêem seus filhos diariamente. Isso prejudica radicalmente o trabalho do professor. Para o aluno, ter reconhecido seu esforço por parte dos pais é fundamental. Se os pais não acreditarem em seus filhos, ninguém mais acreditará. É claro que existem pais dedicados, o que também não garante um bom desempenho escolar do filho, mas já é meio caminho. O que um pai não pode esperar da escola é que seu filho sairá formado com excelentes notas e um bom intelecto sem que ele apóie seu filho e a escola, o trabalho que ela desenvolve.

Como sugere uma professora no filme, talvez a escola, nos moldes atuais, realmente precise de uma radical transformação. Percebo que são pouquíssimos os alunos interessados em aprender. O senso comum nos mostra professores de escolas públicas que dizem que seus alunos os respeitam e acreditam que é através da educação que podem vencer na vida. Vêem no professor uma ferramenta para ascender socialmente. Infelizmente não é a regra para boa parte dos estudantes brasileiros. A maioria dos jovens que estudam em colégios particulares, entretanto, vê no professor a figura que está lhe atrapalhando na conclusão de seus estudos básicos. O único professor adorado por todos os alunos é o dos cursinhos pré-vestibulares, porque é o cara que não faz chamada, não dá nota, estimula e garante que vai colocá-lo na universidade.

Mas o que o filme revela de mais assustador e que, se algum adulto sabia, não contou pra ninguém, é o fato de que os adolescentes precisam ser muito mais ouvidos porque suas angústias são maiores do que podemos imaginar. Uma das meninas diz: “Tenho medo de coisas totalmente complexas e grandiosas, como o medo da morte, o que acontece depois da vida, quem sou eu, o que vai acontecer comigo. São coisas que você começa a pensar e que não têm resposta”. É uma aflição de uma menina de classe média-alta (ou alta), que estuda num dos colégios mais caros do país, mas é uma aflição que se espalha entre outros alunos Brasil afora, de todas as classes sociais…

Como propôs Gilberto Dimenstein em recente artigo no caderno Cotidiano da Folha de São Paulo, “nada é pior que não reverenciar talentos”. As angústias desses adolescentes se transformam em talento, como bem demonstra Pro dia nascer feliz. Pais, alunos, professores e políticos deveriam ser obrigados a assistir Pro dia nascer feliz. Talvez assim o Brasil realmente tenha um futuro promissor.
POR: ADÃO MAXIMO TRINDADE

domingo, 22 de novembro de 2009

O REI E A RAINHA ESTÃO NUS?


“Pois bem, temos aqui outra tarefa para o educador...: ensinar a trair racionalmente, em nome da nossa única e verdadeira pertença essencial, a humana, o que haja de excludente, fechado e maníaco em nossas afiliações acidentais, por mais confortáveis que estas sejam para os espíritos acomodados, que não querem mudar de rotinas ou arranjar conflitos” (SAVATER, O valor de educar, p. 192).

Sabemos a velha história da roupa invisível do rei, o qual, ao vesti-la, pôs-se a caminhar entre os súditos em pêlo. Esse fato levou uma criança a acionar o amor à verdade a apontar o dedo: “O rei está nu”.

Nosso tempo é outro, mas ainda reis e rainhas circulando entre nós. Entre eles estão o rei-professor e a rainha-professora, os quais pensam ter o suposto direito de vida e morte sobre quem senta na cadeira de aprendente.

Lembro-me de uma professora-rainha diante de um aluno com dificuldade de aprender, isso na faculdade. Essa mestra empregou seu poder verbal para dizer àquele aluno que ele “faria melhor se fosse vender banana no mercado, porque ele não servia para o estudo da matéria ministrada por ela”. O aluno ficou arrasado e cometeu o desatino de escolher que a escolha da rainha prevalecesse sobre ele, pois foi à secretaria da instituição e faz o trancamento da matrícula.

Presenciei ainda a ação destrutiva de um professor-rei: não conseguindo se fazer entender por uma turma inteira da educação básica, o docente desqualificou a todos ao chamá-los de “burros despreparados” e “néscios sem futuro”, os quais “seriam melhor aproveitados como trabalhadores braçais” (não sei o que pode haver de indigno na profissão dos feirantes, muito menos na daqueles que enchem nossas mesas de alimentos...). O fato é que também por conta da fala desse mestre-rei, muitos abandonaram a escola e se entregaram ao cuidado da própria vida em paragens onde vislumbraram ser melhor compreendidos e equilibradamente humanizados.

As histórias reais de pedagogicídio lembradas anteriormente não são da época daquele rei denunciado pela criança; estão vivinhos da silva entre nós. Precisamos identificá-los bem, tanto para nossa própria defesa, quanto para a prevenção do discentecídio verificado a amiúde em nosso sistema formal de ensino, nos níveis da educação básica e de terceiro grau.

Ademais, a lembrança dessas ocorrências antipedagógicas podem nos levar a outras reflexões. Por exemplo: o que justifica a existência da escola, do professor e dos processos de ensino-aprendizagem? De minha parte, creio que a admissão do “não saber”, da “ignorância sadia”, que são expressões do “do desejável sei que não sei”, constituem a justificativa para a existência da instituição de ensino, do profissional da educação e dos atos de aprender e ensinar. Se todos nascessem sábios iluminados, faria sentido a existência do aparato educativo mantidos pela sociedade em no âmbito da educação formal?

Então, se é a “sábia ignorância” a razão de ser do professor, esse que é humanamente igual ao estudante, mas epistemologicamente diferente por deter mais experiências com a transmissão, a produção e a aplicação de conhecimentos, não há porque continuarmos a aturar os professores-reis e as professoras-rainhas.

Precisamos dizer a esses equivocados mestres que a roupagem do totalitarismo pedagógico que vestem e que a capa da tirania epistêmica que ostentam, em verdade, não lhes protege a vergonha de não dominarem o “como fazer” (prática) de sua profissão e que isso lhes compromete o “que” (a teoria) e coloca a baixo o “para que” (ética) de sua ocupação. E se esses pseudos formadores não têm consciência disso, alguém precisa lhes dizer: rei e rainha, vossas excelências estão nus.

E, vendo o dedo apontando-lhes o malogro, tomara que tratem de se vestir. Nossos filhos e filhas que querem aprender e a nação que precisa de homens e mulheres consistentemente formados para a vida concreta, profissional e cidadã, agradecem.
Por: Adão Maximo Trindade - Graduando em Pedagogia - UFOP-MG
* Artigo publicado no Jornal Estado do Tocantins.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

20 de NOVEMBRO - "DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA"

“A luta pela liberdade dos negros brasileiros jamais cessou. Em 1971, um significativo capítulo de nossa história vinha à tona pela ação de homens e mulheres do Grupo Palmares. Lá do Rio Grande do Sul era revelada a data do assassinato de Zumbi, um dos ícones da República de Palmares. Passados sete anos, ativistas negros reunidos em congresso do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial cunharam o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Em 1978, era dado o passo que tornaria Zumbi dos Palmares um herói nacional, vinculado diretamente à resistência do povo negro. Herdamos os propósitos de Luiza Mahin, Ganga Zumba e legiões de homens e mulheres negras que se rebelaram a um sistema de opressão. Lançaram mão de suas vidas a se conformarem com a prisão física e de pensamento. Contrapuseram-se ante às tentativas de aniquilamento de seus valores africanos e contribuíram com seus saberes para a fundação e o progresso do Brasil.

Orgulhosamente, exaltamos nossa origem africana e referendamos a unidade de luta pela liberdade de informação, manifestação religiosa e cultural. Buscamos maior participação e cidadania para os afro-brasileiros e nos associamos a outros grupos para dizer não ao racismo, à discriminação e ao preconceito racial.

Que este 20 de Novembro, assim como todos os outros, seja de muita festividade, alegria e renove nossas energias para continuarmos nossa trajetória para conquista de direitos e igualdade de oportunidades. Estejamos todos, homens e mulheres negras, irmanados nesta caminhada pela liberdade e pela consciência da riqueza da diversidade racial!”

Quando tudo aconteceu...( Foto de Zumbi dos Palmares)
1600: Negros fugidos ao trabalho escravo nos engenhos de açúcar de Pernambuco, fundam na serra da Barriga o quilombo de Palmares; a população não pára de aumentar, chegarão a ser 30 mil; para os escravos, Palmares é a Terra da Promissão. - 1630: Os holandeses invadem o Nordeste brasileiro. - 1644: Tal como antes falharam os portugueses, os holandeses falham a tentativa de aniquilar o quilombo de Palmares. - 1654: Os portugueses expulsam os holandeses do Nordeste brasileiro. - 1655: Nasce Zumbi, num dos mocambos de Palmares - 1662 (?): Criança ainda, Zumbi é aprisionado por soldados e dado ao padre António Melo; será baptizado com o nome de Francisco, irá ajudar à missa e estudar português e latim. - 1670: Zumbi foge, regressa a Palmares. - 1675: Na luta contra os soldados portugueses comandados pelo Sargento-mor Manuel Lopes, Zumbi revela-se grande guerreiro e organizador militar. - 1678: A Pedro de Almeida, Governador da capitania de Pernambuco, mais interessa a submissão do que a destruição de Palmares; ao chefe Ganga Zumba propõe a paz e a alforria para todos os quilombolas; Ganga Zumba aceita; Zumbi é contra, não admite que uns negros sejam libertos e outros continuem escravos. - 1680: Zumbi impera em Palmares e comanda a resistência contra as tropas portuguesas. - 1694: Apoiados pela artilharia, Domingos Jorge Velho e Vieira de Mello comandam o ataque final contra a Cerca do Macaco, principal mocambo de Palmares; embora ferido, Zumbi consegue fugir. - 1695, 20 de Novembro: Denunciado por um antigo companheiro, Zumbi é localizado, preso e degolado.
Por: Adão Maximo Trindade - Graduando em Pedagogia - UFOP

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A INVENÇÃO DA INFÂNCIA

Criança e infância parecem sinônimos. E assim deveria ser. Mas, infelizmente, não é... Na realidade, o que entendemos por infância é um conceito de felicidade, criado na época do Renascimento, no início da Idade Moderna (entre o final do século XV e o século XVI). Surgido num período de pujança, crescimento, confiança, crença na humanidade e em suas possibilidades.

Ao mesmo tempo em que floresciam as obras de Shakespeare, Galileu, Da Vinci, Cervantes e Hobbes – a revolucionar a ciência, a arte, a literatura, a filosofia e o conhecimento em geral, também estava no nascedouro a ideia de infância.

E o que seria esta infância senão o momento em que nossos meninos e meninas cresceriam brincando, aprendendo, convivendo, partilhando, rindo e chorando? Pois era esta concepção que surgia. As crianças poderiam inventar brincadeiras e brinquedos, teriam tempo para conhecer os livros e as histórias mais incríveis, correriam livres pelos campos e ruas a chutar lata ou o que encontrassem pela frente...

Um pouco mais para frente no tempo, já na época das revoluções burguesas, surgia a ideia da educação pública, direito universal adquirido por todo e qualquer cidadão, o que aprimorava o conceito anterior de infância porque concedia real acesso ao conhecimento por parte das crianças.

Mas mesmo assim, com ideias sendo consagradas por pensadores e celebradas em leis, a realidade se manteve afastada daquilo que se previa no papel. O preto no branco não garantia a infância para todas as crianças. Ainda era grande a quantidade de infantes que não frequentava escolas. Também abundavam os menores que ao invés de brincarem tinham que trabalhar nos campos, nas oficinas, no comércio...

E o que esperar então quando chegamos ao século XX, com todos os seus avanços sociais, políticos, econômicos e culturais? Não seria natural que com o advento de tantas facilidades a partir deste momento da história humana realmente se configurasse o encontro definitivo e universal das crianças com a infância?

Ainda assim não se pode afirmar categoricamente que toda criança vive a infância como deveria, com a felicidade de quem pode brincar de boneca ou chutar bola, estar numa sala de aula, alimentar-se dignamente, não ser obrigada a quebrar pedra ou cortar cana... Que infância é esta?

É claro que o mundo em que vivemos, que já transitou do século XX para o terceiro milênio tem milhões de crianças que de algum modo vivem a infância sonhada, senão totalmente, pelo menos de forma parcial... São os filhos de famílias que conseguem dar-lhes o acesso à escola, aos brinquedos, às amizades, aos livros, aos passeios...

Mas mesmo estas crianças sentem o peso da modernidade... Do relógio a oprimir o seu viver... Com os tique-taques a lhes dirigir os passos, definindo uma série de compromissos para que seu futuro seja melhor... Ou ainda, mesmo que crianças de corpo, mente e alma, compelidas pelos meios de comunicação a agir e pensar como adultos... Que infância é esta?

A Invenção da Infância propõe ao espectador uma reflexão sobre o que significa ser criança no mundo contemporâneo. Partindo do princípio de que nem toda criança tem infância, o filme mostra como o conceito de infância, enquanto sinônimo de inocência e fragilidade, começou a ser construído entre os séculos XVI e XVII, a partir das conquistas do pensamento humanista. Ao entrevistar crianças em três estados do Brasil - país descoberto na mesma época em que a Europa inventava a infância - a diretora Lilian Sulzbach revela que ao final do século XX a infância ideal sonhada pelos homens da Renascença está duplamente ameaçada. No interior do nordeste, crianças trabalham em canaviais, plantações de sisal e pedreiras em troca de comida ou de alguns poucos centavos. Ao mesmo tempo, em algumas metrópoles com seus shopping-centers escolas de elite e bairros nobres, o sonho de uma infância livre de trabalho e preocupações é substituído por uma extenuante rotina de atividades de preparação para a competitiva vida adulta. Para além das injustas condições econômicas que separam essas crianças, o advento de uma cultura essencialmente audiovisual - que permite a adultos e crianças terem acesso ao mesmo tipo de informação - e a perversão de valores de uma sociedade consumista e narcísea iguala a todos, arrancando a sua inocência de forma definitiva e irreversível.

Por Adão Maximo Trindade, graduando em Pedagogia - UFOP, que foi criança, que teve infância, subindo em árvores, chutando bola, brincando de carrinho e que, por conta disto, fica muito sensibilizado e revoltado em ver como as crianças não têm direito e espaço para brincar, estudar...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

VITÓRIAS PARA A EDUCAÇÃO




04-NOV-2009

Nesta semana todos os que lutam pelo ensino de qualidade e defendem a educação como porta para o desenvolvimento social, político e econômico puderam comemorar, juntamente com o senador Cristovam Buarque, a sanção da lei que universaliza o ensino médio. Com esta lei todas as escolas de ensino médio terão que ofertar vagas a todos os alunos que procurarem. A lei resolve um dos problemas da educação no ensino médio que era a falta de vagas.
Nesta semana também, tivemos mais uma vitória para a educação que foi à aprovação por parte do senado de uma proposta de emenda à constituição (PEC) que, entre outras disposições, reduz anualmente a partir deste ano o percentual de desconto feito nos repasses da União à área da educação pela chamada Desvinculação dos Recursos da União (DRU). Esta proposta partiu do PT, numa PEC apresentada em 2003, mas teve no Senador Cristovam Buarque uma grande alavanca, pois foi ele quem firmou acordo com o governo, no momento da votação da CPMF, de que só votaria na sua renovação se o governo garantisse a aprovação da PEC da Desvinculação, e o compromisso foi cumprido pelo governo.
Nesta última semana também tivemos a vitória no Senado, de mais um projeto de Buarque, o que assegura aos prof essores concursados da rede pública acesso aos cursos de pedagogia e licenciatura sem necessidade de vestibular. O projeto agora vai para a Câmara e, se lá aprovado, vai se transformar em lei. A intenção do projeto é melhorar a qualidade da formação dos professores e das escolas públicas. “Infelizmente, muitos deles hoje não têm condição de passar no vestibular de uma faculdade pública, e não tem dinheiro para estudar numa faculdade particular. E nossas crianças merecem professores com formação melhor”, disse o senador.
Estas três vitórias que estamos comemorando revelam a necessidade de termos políticos comprometidos com a Educação e que sejam verdadeiros revolucionários da educação. Hoje, no Brasil, todos lançam mão das bandeiras da educação durante o período eleitoral mas, passadas as eleições, elas são esquecidas. Por isso, devemos analisar quais os políticos que vivem a realidade da educação, quais os políticos que tem compromissos com qualidade, quais demonstram na sua história política de vida uma luta a favor da educação, pois só assim separaremos os oportunistas daqueles, que realmente fazem a defesa da educação, que acreditam que pela educação podemos realizar a grande revolução que este país precisa.
Uma revolução social, uma revolução ética, uma revolução q ue promova a mesma chance para todos, escola de qualidade tanto para filhos dos trabalhadores como para os filhos dos políticos, empresários e juízes. Que os professores tenham dignidade na realização de sua profissão, que não precisem mendigar e que tenham a chance de ter uma formação inicial e continuada baseada num ensino de qualidade
Por: Adão Maximo Trindade
Graduando em Pedagogia / UFOP

sábado, 7 de novembro de 2009

SUNITA E XIITAS





Quando as divergências dos povos muçulmanos ganham destaque nos noticiários, muitas pessoas ficam confusas sobre as tendências políticas e concepções religiosas que regem as diversas facções políticas islâmicas. Geralmente, muito se fala sobre a contenda entre os xiitas e sunitas, mas poucos ainda conseguem distinguir que tipo de diferenciação é essa. Para tanto, devemos voltar os olhos para o processo de formação da religião muçulmana e a expansão do mundo árabe.

Por volta do século VII, logo após a disseminação do islamismo na Península Arábica, os convertidos a essa nova religião organizaram investidas militares que deveriam empreender a conversão religiosa de outros povos estrangeiros. Também conhecida como jihad, essa ação tomada pelos árabes islâmicos possibilitou a conquista de um vasto território que, com passar do tempo, se estendeu por regiões da Ásia, do Norte da África e da Península Ibérica.

A partir de então, o poderio sobre as ricas terras conquistadas com o processo de avanço da crença muçulmana estabeleceu uma contenda política sobre quem deveria de fato prosseguir controlando as regiões subordinadas ao comando árabe-islâmico. Sem dúvida, o crescimento da comunidade islâmica contribuiu fortemente para que novos grupos políticos aparecessem. Foi por meio de tal disputa que os sunitas e xiitas passaram a ganhar terreno como os dois principais partidos políticos do mundo árabe.

Partindo de uma noção de viés religioso, os sunitas adotam a Suna – livro que conta a trajetória do profeta Maomé – como referencial na resolução das questões não muito bem esclarecidas pelo Alcorão. Seguindo tal livro sagrado, os sunitas somente reconhecem a ascensão dos líderes religiosos que fossem diretamente escolhidos pela população islâmica. Ao todo, os sunitas representam cerca de 80% da comunidade islâmica espalhada pelo mundo.

Tomando outras justificativas, o grupo xiita prefere uma interpretação mais rígida do Alcorão e não reconhece os conselhos e exemplos provenientes de qualquer outro livro. De acordo com os xiitas, o mundo islâmico deve ser politicamente controlado por membros diretos da família do profeta Maomé. A justificativa apresentada para tal opção se baseia na crença de que somente os descendentes da casa de Maomé teriam a sabedoria necessária para conduzir os fiéis.

Apesar das divergências políticas apresentadas, os árabes muçulmanos conseguiram propagar a sua crença para diversas civilizações espalhadas pelo mundo. Segundo indica algumas pesquisas, o islamismo é uma das religiões que mais crescem ao redor do mundo. Atualmente, o grupo político xiita é comumente associado aos pequenos grupos terroristas que mancham a reputação do mundo árabe. Contudo, tais alas radicais não refletem as posições políticas e religiosas de grande parte da comunidade
Por: Adão maximo Trindade
Graduando em Pedagogia
UFOP-MG

terça-feira, 3 de novembro de 2009

DARWINISMO SOCIAL



O darwinismo social realizou uma outra interpretação das ideias de Charles Darwin.

O século XIX foi marcado pelo desenvolvimento do conhecimento científico. A busca por novas tecnologias, alavancada pela Revolução Industrial, fez com que os estudiosos se multiplicassem nas mais variadas áreas do conhecimento. Nessa época, várias academias e associações voltadas para o “progresso da ciência” reconheciam a figura dos cientistas e colocavam os mesmos como importantes agentes de transformação social.

No ano de 1859, um estudioso chamado Charles Darwin transformou uma longa caminhada de viagens, anotações e análises no livro “A origem das espécies”. Nas páginas daquela obra revolucionária nascia a teoria evolutiva, o mais novo progresso galgado pela ciência da época. Negando as justificativas religiosas vigentes, Darwin apontou que a constituição dos seres vivos é fruto de um longo e ininterrupto processo de transformação e adaptação ao ambiente.

Polêmicas à parte, Darwin expôs que as espécies se transformavam a partir de uma seleção em que características mais adaptadas a um ambiente se tornavam predominantes. Com isso, os organismos que melhor se adaptavam a um meio poderiam sobreviver através do repasse de tais mudanças aos seus descendentes. Em contrapartida, os seres vivos que não apresentavam as mesmas capacidades acabavam fadados à extinção.

Com o passar do tempo, observamos que as noções trabalhadas por Darwin acabaram não se restringindo ao campo das ciências biológicas. Pensadores sociais começaram a transferir os conceitos de evolução e adaptação para a compreensão das civilizações e demais práticas sociais. A partir de então o chamado “darwinismo social” nasceu desenvolvendo a ideia de que algumas sociedades e civilizações eram dotadas de valores que as colocavam em condição superior às demais.

Na prática, essa afirmativa acaba sugerindo que a cultura e a tecnologia dos europeus eram provas vivas de que seus integrantes ocupavam o topo da civilização e da evolução humana. Em contrapartida, povos de outras regiões (como África e Ásia) não compartilhavam das mesmas capacidades e, por tal razão, estariam em uma situação inferior ou mais próxima das sociedades primitivas.

A divulgação dessas teorias serviu como base de sustentação para que as grandes potências capitalistas promovessem o neocolonialismo no espaço afro-asiático. Em suma, a ocupação desses lugares era colocada como uma benfeitoria, uma oportunidade de tirar aquelas sociedades de seu estado “primitivo”. Por outro, observamos que o darwinismo social acabou inspirando os movimentos nacionalistas, que elaboravam toda uma justificativa capaz de conferir a superioridade de um povo ou nação.

De fato, o darwinismo social criou métodos de compreensão da cultura impregnados de equívocos e preconceitos. Na verdade, ao falar de evolução, Darwin não trabalhava com uma teoria vinculada ao choque binário entre superioridade e inferioridade. Sendo uma experiência dinâmica, a evolução darwiniana acreditava que as características que determinavam a “superioridade” de uma espécie poderiam não ter serventia alguma em outros ambientes prováveis.

Com isso, podemos concluir que as sociedades africanas e asiáticas nunca precisaram necessariamente dos valores e invenções oferecidas pelo mundo ocidental. Isso, claro, não significa dizer que o contato entre essas culturas fora desastroso ou marcado apenas por desdobramentos negativos. Entretanto, as imposições da Europa “superior” a esses povos “inferiores” acabaram trilhando uma série de graves problemas de ordem, política, social e econômica.